Resenha histórica da freguesia

O povoamento na freguesia de Santana da Serra remonta a tempos muito longínquos. Segundo investigadores os primeiros povoadores da nossa região, instalaram-se, provavelmente, num período de transição do Neolítico para o Calcolítico, da Idade da Pedra para a Idade dos Metais, ou seja, há milhares de anos antes de Cristo.

O período Neolítico corresponde ao período da pedra polida. O homem primitivo deixa de ter uma vida nómada tornando-se cada vez mais sedentário, baseando o seu sustento não só apenas na caça, pesca e colheita de frutos, mas sobretudo na agricultura e na criação de gado. O período Calcolítico corresponde ao período em que o homem é sedentário, dedica-se à agricultura e à criação de gado e utiliza armas e utensílios fabricados em cobre. Assim, com a fixação do homem à terra se teriam formado as primeiras tribos ou clãs, na nossa freguesia.

É referido no livro “Contribuições para o conhecimento dos povoados Calcolíticos do Baixo Alentejo e Algarve”, o Povoado do Cortadouro, situado na margem esquerda do Barranco das Lages, afluente do Rio Mira, aproximadamente a 250 metros para NNE do Monte Novo das Lajes, como uma jazida de povoado Calcolítico. Mais tarde, já na Idade do Ferro, período que corresponde à última etapa da Idade dos Metais e ao início das civilizações, é referenciada a Necrópole do Pêgo, que ocupava um pequeno cabeço formado por um afloramento de xisto, de orientação NW-SE, a cerca de 700 metros, para E-SE, do monte do Pêgo e a una 1500 metros da Portela do Lobo. Uma necrópole de incineração da Idade do Ferro, na qual apareceu grande quantidade de cerâmica à superfície, assim como metais, algumas contas de vidro, fragmentos de fechos de cinturão e peças epigráficas. Foram vários os objectos recolhidos na Necrópole do Pêgo, testemunhando a presença de antigos povos, sendo um contributo valioso na interpretação do nosso passado Histórico. Construído mais recentemente, na época árabe, “O Achado do Azinhal” é citado por Abel Viana como sendo uma estrutura designada de “Castelinhos ou Castelejos”, que se situava a uma certa distância do Castro da Cola. A muralha ou cercado partia do pego da lã, subia ao alto, pela encosta, seguindo pela encumeada sobranceira até fechar o cerco, junto à margem a meio do extenso pego dos saíços.

No Inventário do IPA (Instituto Português de Arqueologia) são referenciados estes três lugares arqueológicos, situados na nossa freguesia: Cortadouro, Pêgo e Azinhal.

Segundo Américo Costa, no seu Dicionário Corográfico, nalguns lugares da freguesia, nomeadamente Corte de Alva, Cortes Pereiras e Corte da Telha, foram descobertos alguns vestígios de castros lusitanos de povoamento, que mais tarde foram aproveitados pelos romanos, servindo de proteção a uma colónia militar de eméritas (pessoas ilustres).

Na nossa região serrenha criou-se e desenvolveu-se uma riquíssima cultura ligada ao pastoreio. Ainda hoje encontramos preciosos arcaísmos no artesanato e na tecelagem, que obedecem a uma gramática ornamental que se filia nos padrões decorativos do mundo islâmico, e que se encontra nalgumas das cerâmicas encontradas no Castro de Nossa Senhora da Cola, podendo concluir que a nossa freguesia teve uma importância considerável na época árabe.

Durante séculos e séculos a nossa região pertenceu, primeiro a um qualquer senhor, eclesiástico, ou não, depois a uma paróquia, o que vale dizer, a uma pequena comunidade de vizinhos. A nossa freguesia era pertença da nobreza, mais tarde do clero, ou seja, da Ordem de Santiago, cujo capelão era um freire professo da dita ordem, sendo o responsável pela proteção e defesa da região, das investidas árabes. Com esse fim, no ano de 1290, o rei D. Dinis doara a vila de Ourique àquela ordem religiosa.

A nossa freguesia, como já dissemos, em tempos mais recentes, pertencia à Ordem de Santiago, dependendo da Diocese de Beja, cujo Bispo, ou outro responsável eclesiástico, aparecia de vez em quando, em “visitação”.

Numa dessa “visitação”, do Bispo, ou de outro responsável, datada de 1511 e com o nº 183, a aldeia de Santa Ana ainda não foi referenciada. Na “visitação” seguinte, datada de 1533 e com o nº 245, a nossa aldeia já aparece mencionada como Santa Anna, concluindo-se que foi fundada na altura em que foi construída a remida, ou seja, no ano de 1515.

Mais tarde, no ano de 1653, conforme testemunhos escritos, a nossa aldeia com o composto “da serra”já existia, ou seja, como Santa Anna da Serra.

Nalguns documentos existentes, na nossa aldeia, constatamos  a existência de alguns montes da freguesia já no século XVII (1670), como o Monte do Rio Tortilho e no século XVIII, no ano de 1748, são citados os montes do Vale Poldres, Fitos, Rio Torto e Pipa, mais tarde em 1753 são mencionados os montes do Albricoque, Lajes e Sismalhas, e no ano de 1769, são referidos os montes do Tacanho, das Taipas, do Sambro, do Pero Guassão, da Lebrinha, do Carapetal de Cima, onde é apresentado como herdade do Carapetal.

Mais tarde, mas ainda no século XVIII (1789), são referenciados os montesde: Serro Velho, Azinheiras, Retorta, Pomba, Casa Nova, Monte Branco, Parreiras, Lebre, Guilherme, Albardas e Eiras Velhas.

Na “visitação” nº 141, de 24 de julho de 1758, é referida a existência de duas aldeias na nossa freguesia, a aldeia da Igreja com 25 “vizinhos” e a aldeia do Estieisro (Estieiro) tendo 6 “vizinhos”. Nessa “visitação a freguesia tinha 336 “vizinhos”, com 952 pessoas de comunhão e 366 menores.

A nossa freguesia nem sempre pertenceu à comarca de Ourique, no ano de 1772 passou para a comarca de Almodôvar, tendo passado definitivamente para Ourique em 1865.

Apesar de concluída com a Convenção de Évora Monte a guerra civil em Portugal, datada de 1832-1834, guerra entre os liberais (D. Pedro IV) e os absolutistas (D. Miguel), iria permanecer acesa durante mais alguns anos, particularmente no sul do país de 1836 a 1840. E seria a serra de Santana a servir, durante algum tempo, principalmente no ano de 1836, de abrigo ao comandante guerrilheiro José Joaquim de Sousa Reis, vulgarmente conhecido pelo Remexido. Defensor do absolutismo, nestas serras, pouco acessíveis, se acoitava e saqueava os lavradores para manter os seus homens, tendo espalhado o medo e a violência por toda a freguesia. Foram anos difíceis para a nossa freguesia, os habitantes receosos dos saques escondiam o dinheiro e os outros haveres.

Antes da Implantação da República era a Igreja, a Paróquia- a menor unidade em que se encontra repartida a administração da Igreja, quem mais e melhor contribuía para a organização da sociedade na nossa região. A sacristia da Igreja Paroquial era utilizada como casa para as sessões da Junta da Paróquia de Santana da Serra.

A nossa igreja, ou capela, que normalmente aparecia como centro religioso, era também um centro civil, pois nela eram baptizados os seres que nasciam, eram sancionados os casamentos e registadas as mortes.

A partir de 1911 nota-se o efeito da quebra no poder da Igreja, cedendo o seu poder à freguesia_ a menor divisão territorial existente na administração pública.

A palavra freguesia provém, por conclusão, do termo “fregueses”, pessoas que habitavam um determinado espaço geográfico, mais tarde delimitado oficialmente para efeitos de administração religiosa ou secular: Os “fregueses” eram os fundadores de uma igreja, ou algumas pessoas a quem eram concedidos direitos de carácter hereditário de posse dos diversos benefícios eclesiásticos e/ou civis.

Anos depois, após a Implantação da República, o vocábulo Freguesia passou a ser oficializado e assim a representação administrativa na nossa região, deixou de ser denominada Junta de Paróquia, passando a chamar-se Junta de Freguesia, ficando a chamar-se como é atualmente- Freguesia de Santana da Serra.

Autor: Junta de Freguesia de Santana da Serra 2005
Livro: Santana da Serra Passado e Presente